O que sabemos (e o que não sabemos) sobre o isolamento social
DRG Brasil
Postado em 29 de maio de 2020 - Atualizado em 28 de setembro de 2023
Na data em que escrevi este texto, 25 de maio
de 2020, eram 5,252 milhões de casos de Covid-19, conforme monitoramento da
Universidade Johns Hopkins no último sábado. Os Estados Unidos lideram a lista,
com 1,6 milhão de casos. Na sequência, aparecem Rússia e Brasil, com 335,8 mil
e 330,8 mil, respectivamente.
O levantamento traz ainda que o número de
mortos no mundo por causa do coronavírus está em 339,026 mil, sendo 96.125 mil
nos EUA. A letalidade é 6,4%, ou seja, 1 em cada 15.
Para contextualizar, vamos ao tsunami do Covid-19
no Brasil:
20/03 - Há 65 dias, o Congresso reconhece
estado de calamidade pública nacional.
20/03 - Brasil: 977 casos e 11 mortes.
25/05 - Passados cerca de 65 dias:
·
349.113 casos do novo coronavírus (Sars-CoV-2)
·
22.165 mortes
·
Aumento em 357 vezes do número de casos
·
Aumento em 2000 vezes do número de óbitos
(Dados: covid.saude.gov.br)
Pense: no Brasil, de cada 15 pessoas que você conhece (seu
irmão, seu vizinho, seu colega) que tiver o diagnóstico de Covid, um vai morrer.
Imagine que você tenha que atravessar uma ponte instável acima de um precipício. No início da travessia, se alguém te informasse que já passaram por ali 349.000 pessoas e de cada 15 que passaram uma caiu no precipício e morreu, você correria o risco de atravessar esta ponte? É o mesmo que te perguntar se você correria o risco de se infectar com Covid-19
A sensação é de um tsunami sobre o mundo e sobre a
sociedade brasileira.
Para o enfrentamento da doença, as notícias não são boas.
1 - O melhor dos mundos seria a vacina, mas não a temos... Para
os super otimistas teremos vacina em outubro, e para os otimistas, demorará cerca
de dois anos.
2 - O segundo melhor dos mundos seria um remédio ativo
contra a Covid. Todos nós tínhamos grandes esperanças de encontrar um fármaco, e
a cloroquina era uma destas esperanças. Infelizmente, nenhum fármaco se mostrou
efetivo até o momento. Na última semana tivemos a péssima notícia dada por um enorme
e robusto trabalho publicado no Lancet. Pacientes Covid positivo que usam
cloroquina morrem mais do que aqueles que não usam! Lamentavelmente esta foi a
pá de cal na cloroquina.
3 - Nos resta o isolamento social. As verdades que sabemos sobre
o isolamento social são:
Verdade 1: O remédio
funciona
Verdade 2: Tem muito
efeito colateral.
Somente no Brasil:
·
R$
20 bilhões por semana é perda em produção com estado de calamidade. O orçamento
anual do SUS são 157 bilhões. Em 8 semanas após o decreto já consumimos o
equivalente ao orçamento de 1 ano de SUS.
·
R$ 142 bilhões é o valor correspondente a três meses de auxílio de 600
reais. Em 3 meses de auxílio também,
consumiremos o equivalente ao orçamento de 1 ano do SUS.
·
R$ 60 bilhões é a ajuda fornecida aos estados para manter a
máquina, o que equivale a 3 semanas de redução de produção.
·
R$ 500 bilhões de rombo orçamentário além do limite, equivale a 3
anos de SUS
A respeito deste remédio chamado isolamento
social não sabemos:
Quando
deve ser iniciado, para termos menos efeitos colaterais;
Qual
é a melhor dose para termos menos efeitos colaterais;
Qual
é a duração ideal para termos menos efeitos colaterais.
Para discutir estas incertezas, o DRG Brasil
reuniu, em uma live transmitida a toda a população pelo Youtube, três craques
no assunto:
Unaí Tupinambás: Médico, professor da Faculdade de Medicina
da UFMG, Doutor em doenças infecciosas, com larga experiência em enfrentamento
de epidemias, expertise construída com o HIV quando foi pioneiro na pesquisa e no
tratamento desde o final dos anos 80. Membro dos comitês de enfrentamento da
COVID-19 da Prefeitura de BH e da UFMG, Unaí explica por que Belo Horizonte é o
grande centro urbano brasileiro com maior sucesso no controle da epidemia.
Francisco “Chico Poté” Cardoso: Médico, Coordenador do Instituto Feluma, consultor
externo do Ministério da Saúde e pesquisador do NESCON/UFMG. Para ver o impacto
da dose deste nosso remédio isolamento social O NESCON/UFMG desenvolveu um modelo
de acompanhamento nacional da epidemia ajustado pelo nível de isolamento social.
Francisco apresenta essa ferramenta para vermos como é possível simular a
evolução da epidemia de acordo com nível de isolamento social.
Luiz
Augusto Carneiro:
Economista em saúde, com Doutorado em Ciências Atuariais pela University of New
South Wales, Austrália. É ex-professor do Departamento de Contabilidade e
Ciências Atuárias da USP, ex-superintendente do IESS (Instituto de Estudos de
Saúde Suplementar). Atualmente é Diretor Executivo do Conselho Empresarial
Brasil Austrália e consultor para a Roche no projeto global da jornada do
paciente de câncer. O Luiz faz o relato de caso do controle da epidemia pelo
isolamento social na Austrália e, quem sabe, poderemos aprender sobre a dose e
tempo de uso destes tratamentos.
Qualquer medida terapêutica, para ser
aplicada, é necessário que seja baseada em estudos científicos. A
pandemia permitiu estudar a cloroquina, e se constatou pela ciência que não
traz benefícios e tem malefícios. O isolamento social vem sendo aplicado em
cidades e países, e por sua vez também permite a realização de estudos, que são
conhecidos como ensaios de comunidade – foi o que pretendemos esclarecer
com esta live.
Não percamos as esperanças.
Renato Couto é médico, graduado pela Faculdade de Medicina da UFMG.
É especialista em Clínica Médica e em Controle de Infecção Hospitalar pelo Hospital das Clínicas da UFMG, e em Medicina Intensiva pela AMIB. É Doutor em Ciências da Saúde, Infectologia e Medicina Tropical pela Faculdade de Medicina da UFMG. Na área acadêmica, foi Professor Adjunto do Departamento de Clínica Médica da FM-UFMG e é professor e coordenador de cursos de pós-graduação na FELUMA/Faculdade de Ciências Médicas de MG.
Dr. Renato é presidente do Grupo IAG Saúde e fundador do DRG Brasil, e possui diversos livros, artigos, capítulos e trabalhos científicos publicados sobre controle de infecção, qualidade e segurança do paciente.
Direitos autorais: CC BY-NC-SA Permite o compartilhamento e a criação de obras derivadas. Proíbe a edição e o uso comercial. É obrigatória a citação do autor da obra original.
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