Modelo Assistencial

Modelos Assistenciais Indutores de Valor e Governança Clínica

DRG Brasil
Postado em 4 de outubro de 2024

Introdução

Modelos assistenciais, ou modelo centrado no paciente, são as premissas para melhorar o valor em saúde.

Ou seja,  para reduzir a carga dos cuidados de saúde sobre cidadãos e governos, o planejamento de sistemas de saúde deve focar nos resultados significativos aos pacientes.

O conceito de “saúde baseada em valor” (Value-Based Health Care - VBHC) refere-se à medição dos desfechos que realmente importam para os pacientes em relação aos custos envolvidos. 

Segundo Michael Porter, valor é o único objetivo que pode unir os interesses de todos os participantes do sistema de saúde. 

Tem-se, então, que para alcançar esses modelos de saúde centrados no paciente, Porter e Lee propõem seis conceitos-chave. São eles:

  1. Organizar os cuidados em torno de condições de saúde específicas;
  2. Medir resultados e custos por paciente;
  3. Alinhar a remuneração com a entrega de valor;
  4. Integrar o ciclo completo de atendimento;
  5. Expandir a capacidade de entrega de cuidados através de afiliações;
  6. Promover o uso da tecnologia da informação na estruturação dos cuidados e medição de resultados.

O que são Modelos Assistenciais?

Modelos assistenciais, também conhecidos como “modos de produzir saúde” ou “modelos de atenção”, são atrelados diretamente à governança clínica. 

Ou seja, referem-se à forma como as ações de atenção à saúde são organizadas em uma sociedade. 

Portanto, os modelos de saúde envolvem a combinação de diferentes tecnologias e práticas assistenciais com o objetivo de intervir em problemas e necessidades sociais de saúde, organizando os serviços de acordo com o perfil epidemiológico da população e investigando danos e riscos à saúde. 

Esses modelos assistenciais evoluem ao longo do tempo em resposta às mudanças sociais e econômicas​.

Evolução dos Modelos Assistenciais no Brasil

Os modelos assistenciais no Brasil evoluíram através de diferentes fases, focando na promoção da saúde:

  1. Sanitarismo Campanhista (início do século 20): Focado na prevenção de doenças através de campanhas de vacinação e intervenções sanitárias, principalmente voltadas para o controle de doenças que poderiam impactar a economia agroexportadora.
  2. Assistência Médica Previdenciária Privatista (1933-1966): Baseada em um modelo assistencial curativo com ênfase na assistência médica para trabalhadores formalmente empregados, financiada por institutos de previdência.
  3. Medicina Comunitária (década de 1960): Introduziu a regionalização e hierarquização dos serviços, participação comunitária e a inclusão de novas categorias profissionais na assistência.
  4. Reforma Sanitária (década de 1970-1980): Definiu a saúde como um direito do cidadão e um dever do Estado, levando à criação do Sistema Único de Saúde (SUS) em 1988, com um enfoque em atenção primária à saúde para todos.
  5. Anos 2000: o Ministério da Saúde lançou diversos programas e políticas focadas em ciclos de vida, gestão clínica e linhas de cuidado para fortalecer a Atenção Básica no Brasil. 

Em 2005, a Organização Pan-Americana da Saúde, com significativa contribuição brasileira, promoveu a renovação da Atenção Primária em Saúde nas Américas. 

O desafio atual é alcançar ganhos de saúde sustentáveis para todos, o que requer uma coalizão entre todas as partes interessadas e a escolha de modelos assistenciais baseados na identificação e análise dos problemas de saúde da população. 

Nesse contexto, os princípios da Cadeia de Valor da Prestação do Cuidado são essenciais na promoção da saúde.

Cadeia de Valor da Prestação do Cuidado e Linhas de Cuidado

A Cadeia de Valor da Prestação do Cuidado (CVPC) é um conceito fundamental para entender como melhorar a eficácia dos cuidados e promoção da saúde

A CVPC mapeia todas as atividades envolvidas no ciclo completo de atendimento de uma condição de saúde, desde a prevenção de doenças até o tratamento e a reabilitação, com o objetivo de maximizar o valor para o paciente. 

A estrutura da CVPC deve considerar como cada atividade é melhor executada, os recursos necessários, e como integrar as atividades de maneira que o valor seja continuamente aumentado para o paciente​. 

Isso inclui a coordenação entre diferentes serviços de saúde, o envolvimento do paciente e a medição de resultados e fatores de risco. 

A CVPC oferece uma nova perspectiva para avaliar programas de cuidados globais em saúde, enfatizando a necessidade de integrar cuidados clínicos e sociais para aumentar o valor do cuidado. 

Como nenhum prestador de saúde consegue oferecer sozinho o ciclo completo de cuidados, é essencial a colaboração entre reguladores, gestores e a rede de assistência para conceber a CVPC adequada a diferentes condições de saúde ou populações específicas.

Estruturação de Modelos Assistenciais Baseados em Valor e Governança Clínica

Porter e Teisberg introduziram o conceito de Unidades de Prática Integrada (Integrated Practice Units - IPUs.

Ou seja, as IPUs são modelos assistenciais organizados em torno do paciente e compostas por equipes multidisciplinares para atender às suas necessidades. 

Além disso, as IPUs oferecem o ciclo completo de cuidados para uma condição de saúde específica, incluindo educação, engajamento, acompanhamento, cuidados para pacientes internados e ambulatoriais, reabilitação e serviços de apoio, como nutrição e serviço social.

Com isso, as linhas de cuidado são um instrumento objetivo para elaborar a dimensão das atividades primárias da CVPC. 

Organizam-se e coordenam-se, portanto, diferentes serviços e profissionais em torno das necessidades de um paciente ou condição de saúde específica. 

Ou seja, em vez de tratar problemas de saúde de forma isolada, as linhas de cuidado promovem uma abordagem contínua e integrada centrada no paciente. 

Por exemplo, a linha de cuidado para a jornada do idoso no sistema de saúde enfatiza a importância de uma abordagem personalizada e integral, abrangendo desde a promoção da saúde até cuidados paliativos​.

Para medir o valor entregue ao paciente em modelos assistenciais centrados no paciente, nasce o Consórcio Internacional para Medição de Resultados de Saúde (ICHOM).

O ICHOM foi llançado em 2012 por Michael Porter, Stefan Larsson e Martin Ingvar, que desenvolveu padrões globais para medir resultados de saúde que são relevantes tanto para os pacientes quanto para os profissionais de saúde. 

Esses padrões, criados por um consórcio de especialistas e representantes de pacientes de vários países, fornecem resultados padronizados, ferramentas de medição e critérios para ajuste de risco para condições de saúde específicas. 

Os resultados são avaliados em quatro dimensões principais: sobrevida, morbidade, satisfação do paciente com os cuidados recebidos e medidas de resultados relatados pelo paciente (PROMs).

Em 2024, vinte instituições de saúde brasileiras começaram a implementar padrões globais de medição de resultados desenvolvidos pelo ICHOM, marcando um avanço na governança clínica orientada por valor no Brasil. 

Neste cenário, facilitada pela Plataforma Valor Saúde Brasil by DRG Brasil + IA, essa implementação envolve o alinhamento com a gestão sênior, a seleção de indicadores apropriados, a análise de lacunas de dados e o uso de tecnologias para coletar resultados reportados pelos pacientes. 

Esses esforços, além de melhorar o modelo de saúde, visam oferecer a qualidade do cuidado ao paciente e promover uma cultura de excelência baseada em evidência.

Estratégias para a Transformação dos Modelos Assistenciais

Transformar os modelos assistenciais para a entrega de valor em saúde requer estratégias focadas na governança clínica e na utilização de plataformas analíticas. 

Ferramentas como a Cadeia de Valor da Prestação do Cuidado permitem avaliar programas de cuidados globais sob uma nova perspectiva, promovendo a integração dos cuidados e aumentando o valor entregue ao paciente. 

Além disso, é necessário estabelecer parcerias entre os diversos níveis de atenção à saúde, utilizando tecnologia da informação para apoiar a coordenação e a continuidade do cuidado​.

Acesse aqui o artigo sobre as métricas mais utilizadas para implementar um sistema de saúde baseado em valor em saúde.

Conclusão

O desafio de reestruturar os sistemas de saúde para entrega de valor é grande, mas essencial para garantir que os cuidados sejam centrados no paciente e orientados para resultados. 

Modelos assistenciais indutores de valor, como as linhas de cuidado integradas são fundamentais para promover a qualidade, eficiência e a continuidade do atendimento. 

Ao adotar essas estratégias, é possível avançar para um sistema de saúde mais equitativo, eficiente e sustentável, que realmente responde às necessidades e expectativas dos pacientes.

O que você achou deste artigo? Compartilhe com quem possa interessar e saiba como a governança clínica baseada em valor pode proporcionar mais qualidade e segurança ao paciente.


Imagem: freepik by freepik

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