Introdução
O conceito de “governança clínica” surge como uma abordagem essencial para garantir que os serviços de saúde sejam prestados com eficiência, segurança e centrados no paciente.
No entanto, os sistemas de saúde têm como objetivo primordial atender às necessidades dos usuários e promover uma melhor qualidade de vida, e, muitas vezes, essa meta não é alcançada de maneira eficaz, resultando em desperdícios significativos de recursos.
O que é Governança Clínica?
A governança clínica é uma forma estruturada de gerenciar a qualidade dos cuidados em saúde.
Ela foca na entrega de valor, ou seja, na maximização dos resultados e qualidade em saúde, que são realmente importantes para os pacientes, utilizando os recursos disponíveis da maneira mais eficiente possível.
Quando os sistemas de saúde falham em cumprir essas premissas, os recursos são desperdiçados.
Ou seja, esse desperdício pode ocorrer de diversas formas: desde a hospitalização desnecessária de pacientes que poderiam receber cuidados ambulatoriais seguros até fraudes e ociosidade de recursos.
Como a Governança Clínica pode traçar uma estratégia para reduzir desperdícios em saúde
A magnitude desses desperdícios é alarmante e ter uma boa gestão clínica para a redução dos riscos e otimização dos recursos e processos é fundamental.
Nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se que 25% dos gastos anuais com saúde sejam desperdiçados, totalizando entre 760 e 935 bilhões de dólares.
Além disso, uma situação similar é observada nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), onde pelo menos 20% de todo o gasto em saúde poderia ser redirecionado para cuidados com melhores resultados para os pacientes, promovendo a melhoria contínua em saúde.
Cenário dos desperdícios em instituições de saúde brasileiras
No Brasil, os desafios são igualmente grandes, exigindo maior foco em eficiência clínica.
Dados da plataforma DRG Brasil mostram que é possível melhorar a qualidade assistencial oferecida e garantir mais economia dos recursos para os hospitais.
São fatores de desperdício:
- No Brasil, 50% das diárias hospitalares são evitáveis
- Permanências hospitalares além do necessário para o tratamento seguro do paciente
- Baixa efetividade da atenção primária
- Eventos adversos evitáveis
Ou seja, essas ineficiências destacam o potencial de economia e a necessidade de melhorias na governança clínica dos serviços de saúde.
Além disso, um estudo do Banco Mundial aponta que os serviços de saúde secundários e terciários no Brasil apresentam ineficiências de até 71%.
A saúde suplementar também não está imune a esses problemas, com estimativas indicando que o desperdício anual devido à insegurança assistencial pode chegar a 106 bilhões de reais.
Como a Governança Clínica e os elos do Sistema de Saúde influenciam o cenário de desperdício
Na governança clínica, diferentes elos do sistema de saúde — desde a atenção primária, passando pelos serviços hospitalares até os cuidados pós-hospitalares — desempenham um papel fundamental na geração ou na prevenção de desperdícios, primordiais na sustentabilidade na saúde.
Do total dos desperdícios assistenciais, falhas na atenção primária, como a baixa resolutividade de casos sensíveis a este nível de cuidados, resultam em internações potencialmente evitáveis, contribuindo para 27% desses problemas. Já o prolongamento desnecessário das internações é responsável por 46% desse total.
Além disso, após a alta hospitalar, a falta de uma transição de cuidado adequada e lacunas no acompanhamento continuado dos cuidados pós-alta aumentam o risco de complicações e readmissões, representando 10% das perdas identificadas pela plataforma DRG Brasil.
Portanto, faz-se urgente aplicar os indicadores de qualidade clínica nesse ciclo de ineficiências que se perpetua quando os diferentes níveis de atenção à saúde não estão devidamente integrados, aumentando os custos e comprometendo a qualidade do atendimento ao paciente.
Iniciativas para Reduzir Desperdícios e Melhorar a Gestão em Saúde no Brasil
No Brasil, há um movimento crescente em direção à governança clínica e qualidade assistencial para entrega de valor em saúde, que abrange uma ampla variedade de organizações, incluindo operadores do SUS, do setor de saúde suplementar e hospitais de diferentes portes.
Este movimento, que visa melhorar a qualidade e a eficiência dos serviços de saúde, visa equilibrar desfechos clínicos com sustentabilidade financeira.
Confira as iniciativas das organizações na transformação da governança clínica:
- Organizações como o Tribunal de Contas da União (TCU), a Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais (SES/MG), a Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo (SESA-ES), e a Federação dos Hospitais Filantrópicos do Espírito Santo (FEHOFES) são exemplos, entre tantos outros, que estão na vanguarda dessa transformação.
- O TCU, por exemplo, lançou o programa "Eficiência na Saúde" para melhorar a gestão de recursos em hospitais do SUS, promovendo auditorias que identificam ineficiências e boas práticas.
- Minas Gerais, por meio do programa Valora Minas, está focando na qualificação da assistência hospitalar, vinculando repasses de recursos a resultados assistenciais.
- No Espírito Santo, a SESA-ES e a FEHOFES implementaram um modelo de contratualização baseado em valor, que resultou em melhorias significativas na eficiência hospitalar.
Esses resultados promissores possibilitaram celebrar a colaboração entre a Valor Saúde Brasil e o ICHOM, visando auxiliar as organizações de saúde na implementação de práticas de cuidado baseadas em valor ao longo de toda a jornada do paciente no sistema de saúde brasileiro.
Clique aqui para conhecer a página oficial do ICHOM.
O ICHOM (International Consortium for Health Outcomes Measurement) foi fundado por Michael Porter com o objetivo de estabelecer padrões de medição de entrega de valor em diversas linhas de cuidado e populações, utilizando conjuntos de indicadores de custos e resultados ao longo da vida dos usuários.
Conclusão
Esses exemplos ilustram algumas estratégias para eficiência clínica no sistema de saúde.
Principalmente, o compromisso do Brasil com a transição de um modelo de saúde centrado na produção para um enfoque na sustentabilidade em saúde e valor.
Essas ações são impulsionadas pela governança clínica e apoiadas por auditorias e políticas baseadas em evidências, que têm como objetivo resultados que realmente importam para os pacientes.
Chegou até aqui? Saiba como as ferramentas da Plataforma Valor Saúde Brasil by DRG Brasil + IA podem auxiliar na redução dos desperdícios dos sistemas de saúde. Fale com nossos especialistas!
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