O que são condições adquiridas hospitalares: falhas que prejudicam o cuidado baseado em valor
DRG Brasil
Postado em 24 de fevereiro de 2021 - Atualizado em 23 de outubro de 2023
Existe diferença entre condições clínicas surgidas durante a internação hospitalar, associadas à doença base do paciente, e aquelas determinadas por falhas no processo assistencial. Entenda!
Você sabe interpretar os termos e conceitos relacionados a “condição adquirida hospitalar”? Nesse post vamos te ajudar a compreender o que diferencia uma condição clínica que surge durante o período de internação hospitalar - e que está associada à doença base do paciente -, daquela determinada não pelas condições do paciente, mas por falhas no processo assistencial.
As condições adquiridas no hospital – CAH (Hospital Acquired Conditions - HAC) são condições clínicas ou complicações que não estavam presentes quando um paciente foi internado, mas se desenvolvem como resultado de erros ou acidentes no hospital.
Veja algumas definições para “erro” e “evento adverso” encontradas na literatura:
Erro: falha que impede uma ação planejada ser completada como pretendido (erro de execução) ou o uso de um planejamento errado para alcançar um objetivo (erro de planejamento);
Erros assistenciais: erros ocorridos durante o processo de assistência à saúde que resultam ou têm o potencial de resultar em dano para o paciente.
Evento adverso: dano ao paciente ocorrido durante o processo assistencial que não foi determinado pelas condições clínicas de base do paciente. Um evento adverso atribuído a erro é um evento adverso prevenível.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um relatório fornecendo uma visão geral detalhada do quadro conceitual da Classificação Internacional de Segurança do Paciente (CISP), que inclui uma exposição de cada classe, conceitos-chave com termos preferenciais e aplicações práticas.
Em relação aos conceitos-chave, destacamos abaixo os que se associam com o objetivo do nosso tema:
Erro: não executar a ação pretendida conforme planejado ou aplicar um plano incorreto;
Evento: algo que acontece com um paciente ou que lhe afeta;
Circunstância notificável: situação com alta capacidade de causar danos, mas em que não ocorre nenhum incidente;
Incidente relacionado à segurança do paciente: evento ou circunstância que causou ou poderia ter causado danos desnecessários a um paciente:
Quase-incidente (near-miss): incidente que não atinge o paciente;
Incidente sem dano: atinge o paciente porém não causa nenhum dano significativo;
Incidente com dano (evento adverso): incidente que causa danos a um paciente.
Dano: alteração estrutural ou funcional do organismo e/ou qualquer efeito prejudicial derivado dele. Inclui os conceitos de doença, lesão, sofrimento, deficiência e morte:
Dano associado com cuidados de saúde: danos resultantes de planos ou medidas tomadas durante ou associadas à prestação de cuidados de saúde, não devido a uma doença ou lesão subjacente.
Entendendo os contextos de incidentes
As condições adquiridas (erros que atingem o paciente podendo causar algum dano ou não) surgem em um ou mais pontos da linha de cuidado assistencial. Ou seja, as condições para o erro estão relacionadas às tarefas, às pessoas e ao ambiente envolvidos com estas tarefas ao longo da trajetória do paciente dentro do hospital. A figura abaixo mostra esquematicamente a cadeia de valor do processo médico-hospitalar:
Cadeia de valor do processo médico-hospitalar
Fonte: Elaborado pelos autores
A OMS descreve 13 possíveis contextos nos quais os incidentes podem surgir. Veja no quadro abaixo:
Contextos de Incidentes Relacionados à Segurança do Paciente
Fonte: OMS
Contextos em que os incidentes podem ocorrer
Exemplos de processos/tarefas em cada contexto em que incidentes podem ocorrer
Acidentes com pacientes
Exposição a quedas; exposição a produtos químicos e a outras substâncias; exposição a mecanismos térmicos; exposição a força perfurante; outros
Gestão clínica
Dimensionamento da equipe assistencial; identificação do paciente; consentimento informado; continuidade dos cuidados; outros
Comportamento dos profissionais da saúde
Não cooperativo/obstrutivo; inapropriado; imprudente; perigoso; abuso de substância; assédio; discriminação; agressão verbal, física, sexual; outros
Dispositivos médicos/equipamentos
Controle de patrimônio/programa de controle e manutenção de equipamentos/dispositivos/bens; outros
Documentação
Folhas de evolução; registros médicos; avaliações; interconsultas; lista de verificação; outros
Gestão de recursos/organização
Adaptação e gerenciamento da carga de trabalho; disponibilidade/adequação de camas/serviços; disponibilidade/adequação de recursos humanos; organização de equipes; disponibilidade/adequação de protocolos/diretrizes; outros
Infecção relacionada à assistência
Infecções relacionadas a procedimentos invasivos; infecções por transmissão cruzada; infecções de sítio cirúrgico; outros
Infra-estrutura/instalações
Controle de patrimônio/programa de controle e manutenção das instalações; outros
Medicamentos/líquidos para administração endovenosa
Prescrição; dispensação; preparo; outros
Nutrição
Prescrição; preparação; cozimento; dispensação; administração; conservação; outros
Oxigênio/gases/vapores
Rotulagem do cilindro; código de cor; travas de segurança; armazenagem; prescrição; administração; distribuição; outros
Procedimento assistencial
Diagnóstico; tratamento; intervenção; confinamento; restrição física; outros
Sangue/produtos sanguíneos
Provas pré-transfusionais; prescrição; preparação; administração; outros
A OMS também elenca as principais causas que determinam a ocorrência dos incidentes relacionados à segurança do paciente:
O processo:
Não é feito quando indicado
É incompleto/inadequado/incorreto
Não está disponível
Processo realizado no paciente errado
Processo realizado na parte/lado/local do corpo errado
Os medicamentos, sangue, nutrição, e outros, necessários para a assistência:
Dose/concentração/frequência/via de administração erradas
Instruções de uso/dispensação erradas
Condições de armazenamento/conservação inadequadas
Omissão de medicação ou dose
Validade expirada
Efeito adverso
Os equipamentos, materiais, e outros, necessários para a assistência:
Embalagem inadequada
Indisponibilidade
Sujo/contaminado
Falha/mau funcionamento
Mal instalado/conexão incorreta/retirada do local de uso
Erro de uso do usuário
A infra-estrutura e instalações necessárias para a segurança do paciente:
Inadequada/desgastada/defeituosa
Indisponível
Analisando as condições adquiridas
Para o Analista de Informação em Saúde, este conhecimento é de crucial importância, uma vez que identificar corretamente uma condição associada à doença de base e uma condição adquirida poderá influenciar no agrupamento DRG e, consequentemente, no nível de complexidade assistencial, na formulação dos custos com recursos consumidos e na avaliação de desempenho.
O ponto central na codificação das condições adquiridas é identificar se o evento a ser codificado trata-se da evolução natural da doença de base do paciente, ou não.
Lembre-se: eventos que se manifestam durante a internação hospitalar e que estão associados à doença de base do paciente não devem ser codificados como condição adquirida. São situações clínicas que devem constar como CIDs Secundários.
Uma última dica importante é que o Analista de Informação em Saúde jamais deve concluir que um evento é uma condição adquirida. Ele ou ela deve buscar evidências no prontuário e, na dúvida, interagir com o Núcleo de Segurança do Paciente e com o médico responsável para consenso.
Direitos autorais: CC BY-NC-SA Permite o compartilhamento e a criação de obras derivadas. Proíbe a edição e o uso comercial. É obrigatória a citação do autor da obra original.
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